O tratamento do autismo envolve muitos profissionais, de várias áreas diferentes. É o trabalho inter e multidisciplinar, combinado com as técnicas da Terapia ABA que possibilitam o desenvolvimento social, motor e cognitivo das crianças com autismo. Ao se tratar de crianças, entretanto, o caráter lúdico das atividades deve sempre estar presente, como forma de inserir habilidades essenciais para a criança de uma maneira mais divertida.

É nesse contexto que desde 2018 as Crianças Casulo participam, toda semana, uma aula de circo específica para elas. As aulas são oferecidas dentro do espaço Casulo de acordo com a necessidade de cada criança. Para falar mais sobre o assunto, conversamos com o instrutor circense Matheus Rocha, responsável pelas aulas. O resultado, você lê abaixo!

1- De onde surgiu a ideia de dar a aulas de circo para esse público especificamente. Você já tinha oferecido aulas do gênero?
A ideia de levar as artes circenses até a Casulo e para as crianças ali atendidas surgiu a convite da Mylena e da Meire, diretoras da clínica. Na época uma de nossas crianças com TEA praticava o circo comigo em um espaço para neurotípicos, e após um ano de trabalho com essa criança e seu nítido desenvolvimento ao longo desse processo de aprendizado, decidimos juntos levar o circo para dentro do espaço da Casulo.

Antes disso já tive experiências com pessoas neuroatípicas de diferentes idades, mas nunca da maneira como foi na Casulo. Essa é uma proposta nova para a clínica e para mim e felizmente tem sido uma experiência muito proveitosa e muito bacana para todos nós!

2- Quais diferenças entre as aulas com pessoas neurotípicas e neuroatípicas. Há algo que você costuma focar mais nos exercícios para crianças com autismo? 
A ideia de uma aula de artes circenses em ambos os casos parte de um princípio muito semelhante, que é o de trabalhar a expressão artística dentro da arte circense, mas na execução as aulas tomam caminhos distintos.

No caso das aulas para crianças neurotípicas o foco se dá no desenvolvimento minucioso de acrobacias, equilíbrios e flexibilidades específicas e na busca por uma alta performance dentro desses parâmetros.
Já no caso das aulas voltadas para o público neuroatípico, usamos as acrobacias, equilíbrios e flexibilidades também, mas com foco muito maior na socialização e na compreensão das crianças como um indivíduo dentro de um momento compartilhado e coletivo onde há algo a ser superado.

Se o foco com uma criança neurotípica é a execução minuciosa de um rolamento (por exemplo), para a criança neuroatípica o sucesso está muito mais na tentativa e na superação – ao decidir deixar medos e receios de lado e executar o movimento dentro de suas habilidades e capacidades (individuais a cada um) – do que na execução perfeita daquele movimento.

E valorizando essas tentativas e tornando o ambiente mais seguro para elas, acabamos chegando a resultados parecidos com aqueles que temos em uma aula neurotípica, mas por um trajeto um pouco diferente de reforços.

3- Quais as habilidades que são trabalhadas e que podem ser desenvolvidas graças à atividade?
Nas aulas de circo trabalhamos muito a lateralidade das crianças, sua coordenação motora, equilíbrio e força. Atividades como aprender a equilibrar um prato chinês nas mãos, praticar posturas e figuras acrobáticas, usar os malabares, subir em um tecido utilizando a força de seus próprios braços e se manter estável enquanto balança ali são todos exemplos de exercícios das artes circenses que utilizamos dentro da aula. Mas além disso, dentro de nosso formato de aula trabalhamos a socialização, o trabalho com o outro e em grupo, o respeito ao espaço do colega.

Esses incentivos são essenciais dentro desse momento de integração das nossas crianças, que muitas vezes, pelo próprio TEA e a maneira como as pessoas o enxergam, em espaços fora da clínica são acostumadas a individualidade e acabam não sendo integradas a atividades que exijam o coletivo.

4- É possível importar alguns dos exercícios do circo para serem treinadas em casa com ajuda dos pais (é bom ou não fazer isso?)
Com o tempo é natural que as crianças, por exemplo, aprendam a fazer uma cambalhota em aula e associem esse movimento a um colchão ao chegar em casa. Com a supervisão dos familiares pode sim ser algo inofensivo.

Brincar de jogar bolinhas com a criança… Tudo deve ser refletido e, se estiver dentro dos limites de segurança, é bacana para integrar a família. Mas na dúvida, é bom sempre conferir na clínica como está o andamento daquele aprendizado. Cuidado nunca é demais!

5- O que os pais de crianças com autismo podem aprender com seus filhos fazendo circo?
Que seus filhos sempre serão capazes de os surpreender em algo novo, que o autismo não é fator limitante para isso, e talvez só precisamos encontrar um caminho diferente para trilhar por ali, e isso pode ser algo bem divertido e encantador.

 

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