O autismo, ou Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), refere-se a uma ampla gama de condições caracterizadas por desafios para aprendizagem de habilidades sociais, presença de comportamentos repetitivos, fala e comunicação não verbal. Estima-se que o Brasil possua cerca de 2 milhões de pessoas com autismo, ou seja, cerca de 1% da população brasileira.

Sabemos que não existe uma forma de autismo, mas muitos tipos de manifestações, influenciados por uma combinação de fatores genéticos e ambientais. Por isso, as pessoas com autismo estão dentro de um espectro, sendo que cada pessoa com TEA tem um conjunto distinto de habilidades e dificuldades.

As maneiras pelas quais as pessoas com autismo aprendem, pensam e resolvem problemas podem variar de altamente funcionais a outros com severas dificuldades. Algumas pessoas com TEA podem precisar de apoio significativo em suas vidas diárias, enquanto outras podem precisar de menos apoio e, em alguns casos, viver de forma totalmente independente.

Vários fatores podem influenciar o desenvolvimento do autismo, e muitas vezes são acompanhados por sensibilidades sensoriais e problemas médicos, como distúrbios gastrointestinais (GI), convulsões ou distúrbios do sono, além de desafios de saúde mental, como problemas de ansiedade, depressão e atenção.

Os indicadores de autismo geralmente aparecem aos 2 ou 3 anos de idade. Alguns atrasos no desenvolvimento associados podem aparecer ainda mais cedo e, muitas vezes, podem ser diagnosticados em 18 meses, mas estudos já indicam a possibilidade do diagnóstico precoce do autismo com apenas 12 meses de idade. Pesquisas mostram que a intervenção precoce leva a resultados positivos mais tarde na vida de pessoas com autismo.

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Ter momentos recreativos, com atividades e experiências que produzem sentimentos de prazer e satisfação, é importante para todo mundo. Isso não é diferente para pessoas com autismo.

Mais que isso, esses momentos podem ser particularmente importantes, pois servem como oportunidades para praticar habilidades sociais, aptidão física e aumentar a motivação, fornecendo uma base para aumento da autoconfiança.

Ainda mais importante, porém, é que a participação nesses programas também ajuda a melhorar as habilidades mais gerais que podem ser aplicadas em ambientes como escola e trabalho. Portanto, o progresso pode ser visto não apenas nos programas específicos, mas também em outras áreas da vida.

Pensando nisso, confira abaixo três questões mais perguntadas por pais a respeito de atividades recreativas voltadas para crianças com autismo.

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Como descobrir o que a criança gosta de fazer?

Trabalhe dentro do contexto das habilidades e interesses de seu filho e a partir daí a dica é trabalhar com a exposição às atividades. Dê à criança a oportunidade de experimentar várias atividades por um período de tempo para ver se algo específico nelas, ou ter interesses limitados. Portanto, envolvê-las em atividades recreativas pode, às vezes, exigir a expansão das idéias tradicionais de lazer.

É importante lembrar que muitas vezes, as habilidades de lazer devem ser especificamente ensinadas a indivíduos com autismo. Assim, o ensino dessas habilidades para seus filhos aumentará sua confiança e, como resultado, os tornará mais interessados ​​em ingressar em programas recreativos, clubes ou equipes.

Dica: Você também pode usar a tecnologia para ajudá-lo a descobrir o que a criança gosta. Há videogames que fornecem simulações de atividades esportivas que podem preencher a lacuna entre o interesse do seu filho em videogames e atividades do mundo real.

Como faço para lidar com uma situação que envolve recreação que dá errado?

Não importa o quanto você queira que uma atividade recreativa funcione ou planeje nos menores detalhes, sempre há a chance de ela não acontecer ou dar errado. Por isso, é importante ter sempre um plano alternativo. Uma boa forma de driblar essas situações difíceis é envolvendo a família, criando espaços seguros e incentivando atividades que incluem a todos, especialmente a criança com TEA.

Além disso, é sempre bom procurar o apoio de outros pais de crianças com autismo que tenham experiências semelhantes também pode ser incrivelmente útil. Vocês podem oferecer sugestões um para o outro sobre o que funcionou para você e, em breve, poderão estar rindo de uma experiência ruim que apenas um dia antes o incomodava.

Quais são alguns exemplos de atividades recreativas para crianças com autismo?

O componente social de algumas atividades recreativas e de lazer pode tornar algumas atividades mais gratificantes e agradáveis ​​para crianças com autismo.

Hobbies como futebol de botão, jogar cartas ou jogos de tabuleiro, desenhar e fotografar também podem oferecer oportunidades de diversão, além de aumentar a autoconfiança e a motivação das pessoas no espectro.

Atividades esportivas individuais, como corrida, natação, caminhada ou ciclismo permitem que indivíduos com autismo participem da recreação sem interações sociais que possam causar estresse.

Quando você e a criança se sentirem mais confortáveis e confiantes, vale então a pena tentar atividades e esportes coletivos, como basquete e futebol, de preferência em um ambiente seguro, como, por exemplo junto com a família ou com outras crianças com autismo.

Nesta próxima sexta-feira, dia 15 de novembro, tem início o 1º Congresso Nacional da Associação Brasileira de Análise do Comportamento Autismo e Desenvolvimento Atípico (ACBr) e a Casulo Comportamento e Saúde estará marcando presença no evento que reunirá alguns dos principais profissionais da Análise do Comportamento. A diretora clínica drª Mylena Lima será uma das palestrantes do Congresso que ocorre até o dia 17 do mesmo mês, no Campus Cidade Universitária da USP, em São Paulo.

Pós-doutora pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e uma das maiores referências da análise comportamental voltada para o autismo, Mylena Lima ministrará a palestra “O que você pode fazer e o que não ajudará fazer até encontrar um tratamento ABA?”.

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Gratuita e aberta para o público, a palestra servirá para ajudar  a esclarecer dúvidas e informar as famílias que possuem crianças dentro do espectro do autismo com informações relevantes e confiáveis.

“Sabemos que no Brasil o acesso ao tratamento adequado do autismo é difícil de se conseguir. Portanto, o objetivo é desmistificar determinadas questões que envolvem o desenvolvimento das crianças com TEA e ajudar as famílias a lidarem da melhor forma possível até que consigam esse tratamento de qualidade, que é a Terapia ABA”, afirma.

Vale lembrar que a Terapia ABA é a única que possui reconhecimento científico e que pode ser usada em todos os níveis do Espectro e a drª Mylena Lima é uma das poucas profissionais que possuem o certificado da Board Certified Behavior Analyst (BCBA-D), que atesta a qualificação do profissional para trabalhar com a Terapia ABA.

Evento

O I Congresso da ACBr também reunirá analistas do comportamento reconhecidos internacionalmente por sua contribuição à área. Além de Richard Malott, confirmaram presença, entre outros, Celso Goyos, Coordenador do instituto Lahmiei da UFSCar; Profª. Maria Martha Hübner, eleita em 2014 presidente da Associação Internacional de Análise do Comportamento (ABAI); e o professor Raymond G Miltenberg, autor do livro “Modificação do Comportamento: Teoria e Prática”.

O evento inclui palestras, minicursos, mesas de debates e uma programação paralela no sábado (16), a partir de 14h, aberta à comunidade e com inscrições gratuitas. Nesse espaço, os interessados vão saber o que é ABA e como identificar uma intervenção ABA; evidências de intervenção ABA ao aTEA; e o que se pode fazer e o que não ajudará até se encontrar um tratamento ABA.

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O treino do toalete é uma das mais importantes habilidades a serem adquiridas no processo de desenvolvimento infantil. Em crianças dentro do Transtorno do Espectro do Autismo, o treino dessas habilidades se torna mais complexo e desafiador.

Pensando nisso, a diretora clínica da Casulo, Mylena Lima, responde à pergunta que muitos pais de crianças com TEA e até mesmo profissionais que lidam com o autismo costumam fazer: os princípios da Terapia ABA podem ser utilizados no treinamento de crianças com autismo, da mesma maneira que crianças neurotípicas?

E a resposta, segundo Mylena Lima é sim! As crianças com autismo podem ser treinadas nos banheiros exatamente pelos mesmos métodos usados ​​nas crianças com desenvolvimento típico.

Mylena explica que quem já treinou uma criança com desenvolvimento típico no banheiro, provavelmente usou uma combinação de elogios e recompensas por ir ao banheiro; explicar suas expectativas, remover a fralda da criança, ir ao toalete em algum tipo de horário, apressando-o ao banheiro quando eles pareciam precisar ir e ensinando como notificá-lo de que ele precisa usá-lo. “O meu conselho para treinar o banheiro de uma criança no espectro é usar exatamente as estratégias que acabei de descrever”, afirma ela.

Desafios com TEA

Com crianças dentro do TEA as coisas parecem se tornar um pouco mais difíceis. Quanto a isso, a doutora explica que um dos maiores obstáculos é simplesmente iniciar o treinamento. Isso porque os pais pensam que o treino do toalete será muito difícil ou algo tão diferente de qualquer outra coisa que eles tiveram que ensinar para essa criança (ou para outra que por ventura tenham tido anteriormente), que tendem a adiar o treinamento.

“Recomenda-se iniciar o treino de toalete por volta dos dois anos de idade, para meninas, e dois anos e meio, para meninos. Entretanto, quando se trata de uma criança com deficiências no desenvolvimento, é muito difícil usar esses padrões. Ao invés disso, essa mesma criança pode ser considerada pronta para começar o treinamento quando conseguem segurar a urina na bexiga por pelo menos uma hora, podem permanecer sentados no toalete por pelo menos três minutos, já conseguem fazer a relação entre seguir as instruções e ser recompensado e não possuem nenhum comportamento de interferência significativamente problemática“, explica ela. Mylena também aponta a necessidade absoluta de consistência e intensidade do treinamento ao ser iniciado

Além disso, quanto mais intenso for a implementação do plano de treino, mais rápido serão os resultados. A recomendação, segundo Mylena, é que nos procedimentos mais intensos, ter um plano de treino de pelo menos 6-8 horas por dia.

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O que fazer com os escapes?

Por incrível que pareça os escapes no treinamento do banheiro são uma coisa boa. Na verdade, explica Mylena, sem escapes, você apenas reforçará as viagens precoces ao banheiro, resultando em uma criança treinada com horários em vez de independente.

Pais, tutores e profissionais que trabalham com a criança têm duas opções nesses momentos, estímulo/reforço.

No primeiro segundo da criança que sofreu um escape, produza um sobressalto verbal alto, como ‘Apresse-se, apresse-se, apresse-se’. Isso não é uma repreensão, mas deve ser declarado em um tom de voz muito alto, surpreendente e urgente. A ideia é produzir temporariamente uma resposta surpreendente na criança, para que a micção seja mantida reflexivamente por um breve momento”.

É importante continuar com essas estratégias até que a criança comece a mostrar menos escapes, a seguir o cronograma e a solicitar independentemente. Durante o treinamento, é muito importante coletar dados sobre escapes e sucessos, para que você possa tomar decisões baseadas em dados ao longo do caminho.

Diminuir a intensidade da programação, desaparecer do banheiro e, finalmente, diminuir as recompensas tangíveis. “Com este programa de tratamento intensivo, vi treinamento completo em menos de uma semana; no entanto, não desanime se o seu filho demorar mais”, ele resume.

E o treinamento de intestino?

Nesse caso, a doutora tem boas e más notícias. A boa, ele diz, é que você geralmente recebe treinamento do intestino juntamente com o treinamento para urinar sem fazer nenhum procedimento adicional. A má notícia é que nem sempre é esse o caso.

Ou seja, quando uma criança é treinada para urinar, mas continua a ter escapes intestinais, você precisa descobrir o motivo por trás do problema antes de poder tratá-lo. Isso quer dizer simplesmente uma falta de conhecimento? Um ritual ou rotina arraigada? Não conformidade? Um problema médico como constipação? A natureza dos escapes orientará seu tratamento.

É interessante treinar no intestino somente quando é provável que a criança precise evacuar.  se o problema for mais persistente ou envolver rituais e comportamentos não cooperativos, você precisará do suporte de um analista do comportamento para implementar um plano de intervenção efetivo. E, finalmente, ela diz, “se o problema é de natureza médica, siga as recomendações de um médico ou nutricionista”.

O Transtorno do Espectro do Autismo é pauta cada vez mais relevante e necessária em todo o mundo. Este ano, no Brasil, o direito das pessoas com autismo ao tratamento efetivo foi amplamente discutido na mídia, na comunidade e eventos que discutem, ao redor do país, políticas públicas para pessoas com deficiência. Hoje, o autismo é reconhecido como uma questão de saúde pública que exige ações urgentes em várias frentes. Entre as quais, a identificação precoce nos primeiros 12 meses de vida, o acesso ao tratamento efetivo na infância e adolescência e o suporte abrangente para a inclusão no mundo social e do trabalho na vida adulta, em especial no que diz respeito a educação especial e inclusão do estudante com autismo na escola.

Quando pensamos no Transtorno do Espectro do Autismo, é importante considerar que o diagnóstico precoce é crucial para o acesso ao tratamento efetivo. De fato, a pesquisa, tanto na área médica quanto no âmbito da psicologia, já demonstrou a necessidade de avaliação clínica para o diagnóstico, pois não existe na área médica uma avaliação de marcadores biológicos via mapeamento genético para todos os casos de autismo. O Brasil já reconhece o problema do diagnóstico precoce como uma questão que merece atenção urgente. Em 26 de abril de 2017, nós tivemos a sanção da Lei nº 13.438/2017 que estabelece que a identificação de atraso no desenvolvimento infantil deve ser realizada por meio de protocolos já autorizados pelo Ministério da Saúde na rede do SUS. Hoje, o Sistema Único de Saúde (SUS) é obrigado a adotar protocolos para avaliação dos marcadores do desenvolvimento infantil nos primeiros 24 meses de vida da criança. Há um consenso entre especialistas que os sinais precoces do TEA podem ser identificados antes dos 18 meses de vida da criança, requerem a avaliação clínica por profissionais treinados. A ciência já nos oferece protocolos de avaliação de fatores de risco para o desenvolvimento infantil que viabilizam o diagnóstico precoce no âmbito da puericultura e da pediatria. O esforço da comunidade científica para produzir protocolos baseados em evidência justifica-se pela tendência de os sintomas do autismo tornarem-se graves e acarretarem um prejuízo significativo para as pessoas ao longo do desenvolvimento, se a intervenção não for iniciada o mais cedo possível. Por exemplo, os problemas de comunicação em crianças com autismo são persistentes e podem incluir desde a dificuldade para a aquisição da fala até a dificuldade para utilizar a linguagem de modo funcional em situações sociais. Inúmeros estudos publicados em revistas científicas já estabeleceram relações funcionais entre déficits na aquisição de linguagem e habilidades de comunicação e a ocorrência de comportamentos-problemas. Entre os mais graves estão a presença de agressão física e de comportamentos autolesivos.

Estas dificuldades causadas pela falta de tratamento efetivo, têm um enorme impacto na qualidade de vida dos indivíduos, suas famílias e educadores, já que intervenção iniciada tardiamente prejudica o. Entende-se por intervenção precoce é considerada aquela feita desde os primeiros meses de vida da criança até os 5 anos de idade. Já está amplamente provado pela ciência que a intervenção precoce permite tirar proveito do período do desenvolvimento onde a neuroplasticidade cerebral está presente onde uma das principais preocupações relacionadas ao autismo é a questão do atraso na aquisição de habilidades importantes para o desenvolvimento infantil em áreas como comunicação, socialização, acadêmica, adaptativa e ocupacional.
Para avançarmos no debate sobre diagnóstico o direito ao tratamento efetivo, temos que incluir a educação especial como componente essencial. Quando pensamos em crianças com autismo entende-se que a inclusão escolar é o passo mais importante para o desenvolvimento pleno desses indivíduos, uma vez que, a interação social na vida de uma criança com autismo é primordial para o desenvolvimento de habilidades e comportamentos socialmente aceitáveis. A escola é o espaço público onde este desenvolvimento deve acontecer. Inclusão escolar é ter acesso a programação curricular adaptada que leve em conta as capacidades e as necessidades do estudante com autismo. Educação de qualidade para crianças com autismo não é ter cuidador na escola, apesar de que é direito constitucional do estudante com autismo ter um acompanhante escolar. Crianças com autismo têm direito à educação especial de qualidade. No entanto, desde a Lei Brasileira de Inclusão (ou Estatuto da Pessoa com Deficiência), que entrou em vigor em 2016, pouco se avançou do ponto de vista prático. Adaptada da Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência da ONU, a lei que busca garantir os direitos das pessoas com deficiência trata da acessibilidade e da inclusão em diferentes aspectos da sociedade.
Quando a escola não recebe suporte curricular adequado, os indivíduos com autismo passam pela vida escolar sem desenvolverem as habilidades necessárias para uma vida mais independente em comunidade. A precariedade na educação pode impossibilitar a entrada no mercado de trabalho daqueles indivíduos que convivem com autismo de alto funcionamento. Pessoas fora do mercado de trabalho não deixam de representar um enorme custo, tanto social, quando econômico para a sociedade. Se indivíduos com autismo, por falta de intervenção de terapia apropriada, não conseguem se tornar adultos produtivos, pais, cuidadores e familiares precisarão ser os responsáveis por dar suporte a estas pessoas desde o nascimento até a vida adulta. A falta de acesso a intervenção precoce, aumenta o risco emergencial de transtornos mentais na vida adulta. Consequentemente mais demandas para o sistema de saúde, nos hospitais e no suporte psiquiátrico ambulatorial, uma vez que, estas pessoas irão precisar de mais recursos da área da saúde, devido a problemas no âmbito de funcionamento adaptativo e de vida independente.

Desde a regulamentação da Lei Berenice Piana (12.764/2012), que instituiu a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtornos do Espectro do Autismo e reconheceu o autismo como uma deficiência, todos os direitos constitucionais previstos para pessoas com algum tipo de deficiência estenderam-se aos indivíduos com autismo. Direitos constitucionais de acesso a saúde e educação de qualidade, exemplificados pelo ingresso e permanência nas escolas regulares com direito a um monitor quando as crianças necessitam, além da proibição da escola a se recusar a matricular o estudante, o direito à inclusão no mercado de trabalho com as vagas para pessoas com deficiência e de auxílio terapêutico no ambiente de trabalho, estabeleceram as garantias das crianças, adolescentes e adultos com TEA ao acesso ao suporte necessário para que estes indivíduos alcancem qualidade de vida no âmbito pessoal, na escola, na comunidade e no trabalho.

É preciso lembrar que o diagnóstico precoce, o suporte na área da saúde, o tratamento efetivo e eficaz por meio de intervenção precoce, a educação especial e inclusão do estudante com TEA no ambiente de ensino, o autismo na adolescência e na vida adulta e políticas públicas para indivíduos com Transtorno do Espectro do Autismo precisam ser discutidos sempre.

O que precisamos entender sobre o autismo?

O autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento complexo e com uma etiologia de base bilógica. Este transtorno caracteriza-se pela ocorrência de problemas marcantes no desenvolvimento infantil. Alterações no desenvolvimento, que ocorrem no autismo incluem dificuldades nas habilidades sociais, comunicacionais e comportamentais que acarretam um prejuízo significativo para a vivência familiar, acadêmica e em comunidade. O diagnóstico de Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é clínico e deve ser realizado a partir dos critérios estabelecidos pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM).

Por que parece tão comum ouvir falar em autismo hoje?
Dados epidemiológicos de 2018 oferecidos pelo Center for Disease Control and Prevetion (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) dos Estados Unidos, informam que 1 em cada 59 crianças nascidas são diagnosticadas com TEA. No Brasil estima-se que em torno de 2 milhões de pessoas são afetadas pelo autismo. Por conta disso, a busca por tratamento efetivo no país tem crescido exponencialmente. Existe portanto, uma crescente demandapor profissionais capacitados, tanto pela famílias, que buscam tratamento eficaz, como por profissionais que realizam o diagnóstico e identificam a elegibilidade para tratamento especializado.

Quando pode se perceber os primeiros sinais de autismo?
Os sinais precoces do autismo podem ser identificados antes dos 18 meses da vida da criança por profissionais treinados, utilizando protocolos baseados em evidência. Os sintomas podem acarretar um prejuízo significativo para as pessoas ao longo do desenvolvimento se o tratamento não for iniciado o mais cedo possível. Por exemplo, os problemas de comunicação na criança com autismo são persistentes e podem incluir desde a dificuldade para a aquisição da fala até a dificuldade para utilizar a linguagem de modo funcional em situações sociais.

O que é a Terapia ABA?
A Análise do Comportamento Aplicada (do inglês Applied Behavior Analysis – ABA) é uma ciência dos problemas humanos que propõe a utilização de princípios científicos que regem o comportamento humano para a melhoria de dificuldades socialmente relevantes, e é voltada para a implementação de estratégias efetivas para a mudança comportamental que são vantajosas e duradouras para os indivíduos que dela se beneficiam. No Brasil, a aplicação da Análise do Comportamento Aplicada ao Autismo está sendo conhecida como Terapia ABA. A comunidade de analistas do comportamento, aponta a importânica de não confundir a ciência Análise do Comportamento Aplicada com um conjunto de técnicas ou métodos. A Análise do Comportamento tornou-se mundialmente conhecida após uma abrangente implementação para o tratamento de indivíduos com autismo ao redor do mundo com resultados muito positivos. Desde a década de 1950, a eficácia de protocolos da Análise do Comportamento ficou demonstrada em muitos estudos publicados em revistas científicas. Tanto que na década de 80 a utilização da Terapia ABA para o tratamento do TEA teve sua efetividade reconhecida no âmbito da medicina pediátrica pelo Surgeon General dos Estados Unidos, que é uma agência governamental americana responsável pela avaliação e aprovação de tratamentos médicos efetivos. A Terapia ABA se mostra eficaz no tratamento para ao autismo por meio da melhoria nas habilidades de vida diária, na área acadêmica, na vivência em comunidade, no desenvolvimento socioemocional, no desenvolvimento de comunicação, nas habilidades de autorregulação entre outras importantes habilidades que crianças e jovens precisam desenvolver para participar de ambientes e de situações sociais das mais diversas.

Como é feita a intervenção com ABA? 
A intervenção com Terapia ABA geralmente inicia-se por meio de uma avaliação inicial das habilidades da criança, bem como dos comportamentos difíceis por ela apresentada. Após a avaliação inicial, um profissional capacitado desenvolve um plano de intervenção comportamental que inclui uma programação para o ensino individualizado, intensivo e sistemático com o propósito de ensinar novas habilidades ou reduzir problemas de comportamento que funcionam como barreiras para o desenvolvimento infantil. O progresso clínico da criança é continuamente avaliado uma vez que a intervenção é monitorada por meio da coleta de dados que serve para a tomada de decisão sobre quais devem ser as prioridades para o tratamento da criança no futuro. Para a intervenção efetiva com Terapia ABA nós temos então uma sequência que consiste na avaliação, na programação com estratégias baseadas em evidência, na implementação da programação, seguida de reavaliação e estabelecimento de novas metas terapêuticas.

Como saber se um programa ABA tem qualidade?
Com a popularização da Terapia ABA no Brasil é importante se falar sobre a importância de informar bem os consumidores, sejam eles pais, familiares, educadores ou até mesmo profissionais da área médica ou da área de saúde, para que estes possam identificar a Terapia ABA de qualidade para encaminhar crianças ou indivíduos que necessitam de intervenção. Algumas características são importantes para que se determine que um programa de Terapia ABA tenha a qualidade necessária: o programa deve ofertar serviços com base nos princípios cientificamente comprovados; oferecer uma atenção individualizada as necessidades do cliente, familiares e demais pessoas que lidam diretamente com a criança; os objetivos terapêuticos precisam ser identificados por meio da avaliação dos déficits e das habilidades básicas da criança; bem como os problemas de comportamento devem ser investigados por meio da análise funcional dos comportamentos.

Quem pode oferecer Terapia ABA no Brasil?
No Brasil, a capacitação para a intervenção em Terapia ABA está em pleno crescimento. A ACBr informa quais são os critérios que devem guiar a escolha de um profissional competente para supervisionar programas de Terapia ABA. Mas, nos países norte-americanos as diretrizes para a formação profissional e a prática responsável da intervenção com Terapia ABA já está muito melhor estabelecida por meio da certificação internacional pelo BACB. Por aqui, cada vez mais profissionais tem se interessado em obter a qualificação necessária para atuar em Análise do Comportamento Aplicada ao Autismo. Esses profissionais investem em sua própria formação profissional que requer formação acadêmica no nível de mestrado e doutorado e uma ampla experiência supervisionada.
Dra. Mylena Pinto Lima é diretora clínica da Casulo Comportamento e Saúde. Psicóloga, BCBA-D (Certificação Internacional em Análise do Comportamento Aplicada (Terapia ABA) Behavior Analyst Certification Boardem), Doutora em psicologia pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Atuou por 10 anos no ensino superior em universidades brasileiras como professora e pesquisadora, e por 10 anos no Canadá como Analista do Comportamento nas áreas de desenvolvimento e saúde mental de crianças e adolescentes.